à Sara Ribeiro...    

Sara, Sara, minha Sara que feneces
nessa luz que consome os teus anseios
noite e dia, dentro e fora de ti mesma,
quem diria que tu sabes e não esqueces
o que vives como se não o soubesses...
Transmutas emoções em cada hora
entre a dor de estar e de não estar
dentro de quem queres e não te vê
para além do teu corpo ausente...
Não é um trio, é quarteto,
que duas partes são tuas
em floreio permanente!
Renasce em cada suspiro
que te seca na garganta
aquele sopro que as faluas
aguardam pra ir em frente,
mas tu mergulhas na onda
da luz dessa tua aurora
onde a espuma não é branca
nem sequer existe agora...
…e tu lá vais, vida fora
a soprar amor aos ventos
inventando de repente
sete mil novos alentos
por cada dia de amor
que abraças enquanto sonhas
e choras logo a seguir...
quase mesmo sem sentir
o quanto te dói a dor...
Nasceste só, muito só,
mas nunca te deste conta
do peso, da imensidão,
dessa tua solidão...
Vives, pois, que por invés
de tentar sobreviver,
essa cabecita tonta
que sabe bem quem tu és
finge que há-de acontecer
e te há-de cair aos pés
um ar de felicidade
pra encher os teus vazios
Mas olha lá, pequenita,
não terás duos nem trios
nem família nem amores
onde viva o que tu queres
porque esse segredo enorme
esse segredo-sarita
cheio de risos e dores
que carregas sem saberes
vive no teu coração
voa com as tuas asas
e quando acordas ele dorme...
É assim que tu existes
e é assim que resistes
à sede que te consome!
És só um anjo vulgar
com uma asita aleijada
mas não deixes de voar
rumo aos sonhos desse altar
aonde imolas desejos
de afagos, festas ou beijos
e corpos a entrelaçar
as cabeças de mão dada...
...tudo o resto não vale nada,
sabes tão bem como eu!
Dá à luz horas furtivas,
faz-te varinha de fada
e vive!!! Não sobrevivas
à sombra que já morreu.
Bebe novos horizontes
aventuras, coisas loucas
e queima todas as pontes,
persegue o teu sol nascente!
...as horas boas são poucas
e povoadas de gente:
suga delas o tutano,
seja moral ou profano
e dá-te sempre a quem amas
sem medo do amanhã
alma virgem, mente sã,
mãos abertas, corpo nu,
porque o mereces, irmã,
porque de amor sabes tu...!

© PEDRO LARANJEIRA